Organização Mundial da Saúde já aponta celular como um dos principais fatores de risco à segurança viária, à frente do sono e da fadiga
Superando a marca de 240 milhões de unidades no Brasil, os aparelhos celulares estão presentes no dia a dia das pessoas, porém, seu uso associado à direção tem influenciado diretamente no aumento do número de acidentes no trânsito e acendido o sinal amarelo entre os especialistas em segurança viária.
“Quando a pessoa fala o celular, ela está dirigindo como se tivesse alcoolizada num nível de uma grama por litro de álcool. No sangue o que vale é três, quatro doses. Então isso é para iniciar a conscientização. Primeiro, focar o problema. O problema existe e cada dia ele avança pelo celular na direção. Infelizmente a gente tem mais tragédias, mais mortes, feridos e sequelados que vivem e saem do hospital. A gente nem sabe quantos são”, afirma Flávio Adura, diretor técnico da ABRAMET (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego) em conversa no Podcast “De Olho na Estrada” que trata de Segurança no Trânsito.
A associação, que há 42 anos trabalha com o lema de “preservar vidas no asfalto”, desenvolve estudos com foco na melhoraria do trânsito. Nesse período já contribuiu para importantes medidas de segurança, como a implementação da lei seca e a obrigatoriedade da cadeirinha. Agora faz um alerta sobre uso crescente do celular no trânsito, muito acima do que se imagina.
“Na base de dados do Registro Nacional de Infrações de Trânsito, que é coordenado pela Senatran, em 2021, pelo menos 250 mil condutores foram flagrados e multados por estarem falando ao celular. Esse dado é super subestimado, porque só demonstra aqueles que foram multados. A prática de falar ao celular é crescente. Desde que se iniciou a telefonia celular, a cada mês, a cada dia, eu diria, é mais gente falando ao celular e dirigindo. Em janeiro de 2023, só janeiro, já foram multados 136 mil condutores falando ao celular e dirigindo”.
Para o comentarista do Podcast e gerente de operações da SPMAR, Fausto Cabral, as evidências diárias mostram que esse é um perigo ignorado por quase metade dos motoristas, incluindo motociclistas, conforme levantamento feito no Rodoanel: “De cada dez veículos que trafegam pela rodovia, cerca de 3 a 4 veículos utilizam o celular e dirigem. Inclusive, já flagramos motos também”.
A própria Organização Mundial de Saúde já classifica o celular como um dos fatores a serem combatidos para um trânsito mais seguro, como explicou Adura.
“Estamos na segunda década para que os países, incluindo o Brasil, consigam reduzir pela metade as mortes e ferimentos no trânsito. A OMS estipulou os principais fatores de risco e proteção. Começou com a velocidade, depois vieram as ultrapassagens perigosas, baixa visibilidade nas estradas e os fatores humanos, como ingestão de álcool edrogas, medicamentos, saúde do condutor. Não utilizar cadeirinha, o motociclista não utilizar capacete. E, na última edição incluiu, a telefonia celular e o uso de dispositivos de mensagem como um grande fator de risco. E nós estamos observando cada vez mais esse risco presente de tal maneira que a gente dizia que o principal fator de risco, que é um consenso, eu diria mundial, é a velocidade. E depois vinha o álcool, depois vinha o sono e agora não. A telefonia celular já ultrapassou o sono, a fadiga e está disputando com o álcool”.
Para conferir a conversa completa do Dr Flávio Aruda, e saber um pouco mais sobre os perigos do uso do celular ao volante, basta acessar a plataforma de áudio do De Olho na Estrada no Spotify.
O De Olho na Estrada é um canal que reúne especialistas para conversar sobre segurança viária de uma forma descomplicada. Conta com apresentação de Fabio Loiola, coordenador de comunicação da SPMAR e comentários de Fausto Cabral, gerente de operações da SPMAR.